Sabemos que a vida navega entre mares calmos, por hora agitados ou mais turbulentos. O momento atual tem sido de ondas altas, mar revolto. O barco da vida perdeu o controle e o rumo. Está encoberto por uma grande nuvem de incerteza. Não sabemos como vai ser o amanhã, os danos que poderemos sofrer ou até mesmo quando o furacão vai passar. Nossas vidas, de um momento a outro, ficaram atreladas ao medo do desconhecido, à insegurança da incerteza, ou à histeria coletiva.
Momentos difíceis são ansiogênicos por si só. Porém quando se vislumbra risco de vida, da própria vida ou dos que amamos, o pavor pode aparecer. Contudo vale lembrar que o medo é fator protetivo quando motiva a nos protegermos mais. O medo excessivo, no entanto, leva a atitudes exageradas, como estocar álcool gel, rechear a despensa, sair na busca desenfreada por medicamentos divulgados como possíveis curadores do Covid-19. Não é momento de correr. É momento de parar, silenciar, refletir.
A pandemia mundial nos convida a olhar ao redor, muito além do nosso mundo antes protegido. Somos parte de um todo. E estamos muito mais conectados do que antes imaginávamos. O espírito coletivo convida a pensar no outro como irmão. Me cuidar é também cuidar do outro. O foco é abrir o olhar, enxergar mais longe. Olhar para dentro de si. Em vez de focar no medo e insegurança, procurar outras formas de direcionar o olhar, como avaliar minhas meu comportamento, minhas decisões, como anda meu senso de humanidade. Dar espaço ao medo, permite ele se multiplique. Cultivar os valores, com a paz, a fraternidade, a igualdade, o respeito e a união pode nos fazer amadurecer como seres humanos.
Por isso fique recluso, mas não carregue consigo os temores. Viva um dia de cada vez. Seja grato por tantas coisas boas que já passaram em sua vida. Veja quantas pessoas estão se voluntariando, empresas doando, coisas boas e belas fluindo em meio ao furacão. Busque o que lhe faz bem. Boas leituras, bons filmes, músicas. Cante, brinque com os filhos, dance com a esposa, reveja fotos dos álbuns de família. Seu lar é seu bem mais precioso e sagrado. Seja grato, envie afeto para sua rede de contatos.
E acredite: o furacão vai passar. Quanto mais nos cuidarmos, antes chegaremos a águas calmas novamente. Por isso fortaleça sua fé e otimismo. Cultive sua saúde mental, o equilíbrio. E vamos repartir o álcool gel, pois de nada adianta eu ter um estoque e minha vizinhança ficar sem. Deixemos as máscaras para os adoentados. Quantas coisas guardamos para quando precisar e esse dia pode nem chegar. Lave as mãos com cuidado, lave a alma. Lembre de todos os profissionais que estão na linha de frente cuidando dos infectados.
Manter a calma vai favorecer sua saúde. Se não conseguir, procure ajuda profissional. Os psicólogos também estão na linha de frente, cuidando da população e dos outros profissionais da saúde. Consultas online estão liberadas para que a Psicologia se engaje com a necessidade desta fase. Não exite se estiver depressivo, com crises de ansiedade ou pânico, com ideias de morte. Furacões podem afetar estruturas emocionais frágeis, com predisposição ao desespero e angústia exagerada. Busque ajuda!
Vamos viver um dia de cada vez. A vida segue. Precisamos erguer a cabeça e enfrentar o que tiver por vir. Reunir nossa força e coragem para crer no futuro com otimismo. Cuide de si. Cuidemos de todos. Um dia tudo terá sido mais uma história para contar.
Texto publicado no jornal Gazeta do Sul, março/20. Ilustração: Matheus Steffens Bartz. Instagram: instagram.com/mbartzart
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